terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ninguém me Conhece: 8) A felicidade triste de Ceumar

Minha ideia inicial era escrever apenas a respeito de artistas que, de uma forma ou de outra, estivessem excluídos: os sem-produtor, os sem-marketing, os sem-mídia, os sem-público, os sem-shows, os sem-voz, os sem-grana, os sem-patrocínio, os sem-editais, os sem-pais-famosos etc. Porém, como toda regra tem exceção (e é saudável que assim seja), faço hoje uso deste espaço pra escrever acerca de Ceumar. Sim, Ceumar! Se bem que, por um determinado viés, ela também poderia ser vista como pertencente aos sem-alguma-coisa, porque, apesar de ser razoavelmente conhecida, sua fama é ainda infinitamente pequena se comparada ao talento que possui. Lembro-me de quando li pela primeira vez a seu respeito na Folha de São Paulo, num remoto janeiro de 2000, texto sob a pena de Pedro Alexandre Sanches (que saudades!) com o sugestivo título Ceumar Parece Coisa que nem Existe. Acabei a leitura sentindo comichões que só passaram quando comprei o CD Dindinha. Na verdade, os comichões aumentaram...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ninguém me Conhece: 7) Lúcia Santos, sem tarja

O Sopa de Letrinhas, pra quem não conhece, é um sarau (des)organizado há anos por Vlado Lima. Quem já foi sabe o que é. Quem nunca foi, lendo o texto que escrevi a respeito de seu mentor intelecnorante (Vlado Lima, 86% Mau) terá uma ligeira ideia da “bagaça”. Ou então, indo ao bar Lua Nova na última sexta-feira de cada mês (leve dentes de alho e crucifixos!). Foi justamente numa dessas noites que conheci Lúcia Santos.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Essa Letra Vai Dar Samba?

Caríssimos:

Tomei a iniciativa de participar do concurso Essa Letra Vai Dar Samba, organizado por Leoni e Walter Ribeiro. Tô na 5ª eliminatória, com a letra Receita do Samba, interpretada por Sonekka. As votações podem ser realizadas apenas nos dias 18 e 19 de agosto. No link abaixo dá pra ver/ouvir as concorrentes:

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ninguém me Conhece: 6) O centro está em todas as partes de Kléber Albuquerque

foto: Drika Bourquim
Em minha trajetória musical identifico quatro fases evolutivas de maior impacto sobre meu estilo: Chico Buarque foi meu jardim da infância, pois foi ouvindo-o que senti por vez primeira a necessidade de compor, ainda que rusticamente imitando-o; Élio Camalle foi meu ensino fundamental, por seu intermédio aprendi a não pretender ser Chico Buarque; tive em Kléber Albuquerque meu ensino médio, quando o descobri, passei a ser mais criterioso na busca pela originalidade; já o espanhol Joaquín Sabina foi meu ensino superior, suas canções me ensinaram que há degraus acima da originalidade passíveis de ser galgados por quem não teme quedas e aprende a fazer amor com as palavras. Houve outros, obviamente, mas considero estes os quatro pilares fundamentais na construção de Léo Nogueira (que segue em obras – e aberto pra balanço). De Chico Buarque todos já falaram; de Élio Camalle vivo falando; de Joaquín Sabina tratarei em seu devido tempo; neste relato quero traçar algumas impressões acerca de Kléber Albuquerque:

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ninguém me Conhece: 5) Daisy Cordeiro, absoluta!

Não me lembro de nada. Claro, tinha pouco mais de três anos de idade. Tudo o que sei foi de ouvir falar. E também do que me contaram tenho vaga lembrança. Dá a impressão de que minha família fez um acordo tácito como que pra apagar o ocorrido. Sei apenas que foi durante a Copa do Mundo de 1974. Naquele dia  o Brasil jogava. Não me perguntem contra quem. Eu estava certamente diante da tevê, mas meus pensamentos infantis deviam estar vagando por universos que hoje me são inacessíveis. Assim como os meus, os pensamentos de minha mãe não estavam naquela tela. Ela, alheia a tudo, no quintal, pendurava no varal as roupas que acabara de lavar. Que não deviam ser poucas. Estava grávida de não sei quantos meses. Havia uma terceira personagem que também não acompanhava o jogo: o cachorro do vizinho. Talvez irritado pelos fogos, num acesso de desespero, pulou o muro e resolveu descontar sua ira em minha mãe, que, ao perceber a indesejável visita aproximar-se, trepou numa árvore que havia no quintal (sim, havia uma árvore no quintal!), com inesperada agilidade, e pôs-se a gritar por socorro. Seus berros, contudo, foram inúteis. O máximo que conseguiram foi juntar-se aos da multidão. O jogo acabou, o cachorro se cansou, minha mãe desceu (ou caiu) da árvore e, alguns meses depois, deu à luz uma menina a quem jamais chegou a ver, pois nasceria morta.

sábado, 7 de agosto de 2010

Crônicas Classificadas: 1) O amor acaba

Eu não seria dependente do vício de escrever se não tivesse começado por um vício maior: o da leitura. Um belo dia, minha mãe trancou o portão e me disse: "A partir de hoje, é do portão pra dentro!". Não sabia ela que, a partir daquele dia, me condenava ao vício supracitado. Ainda hoje me pergunto: se ela soubesse, será que teria deixado o portão aberto? O fato é que não deixou, e, depois de drogas pesadíssimas, cá estou neste espaço, traficando palavras. E, não contente em traficar as minhas, tive a ideia de compartilhar com os possíveis leitores textos que me arrebataram. Como tenho a malfadada coluna Crônicas Desclassificadas, optei por, como contraponto, batizar esta de Crônicas Classificadas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Ninguém me Conhece: 3) A felicidade segundo Élio Camalle

Existem dois grupos de seres iluminados: o grupo ao qual pertencem, por exemplo, Noel Rosa e Chico Buarque, cujo brilho é capaz de cegar já à primeira vista; e o grupo que tem como membros, entre tantos outros, Cartola e Luiz Gonzaga, cujo brilho vai ganhando intensidade com o passar do tempo, como um lampião a gás que se transforma paulatinamente em holofote. Os primeiros parecem brilhar como o sol, naturalmente; já os segundos forjam sua iluminação com o suor do trabalho árduo de cada dia, até que o metal resplandeça e tudo pareça tão simples que nem se perceba o quão complexo foi chegar a tal.