sábado, 30 de junho de 2012

Ninguém me Conhece: 66) O outro planeta de Gabriel de Almeida Prado

Gabriel em começo de carreira (em
foto promocional), quando era
guitarrista da infântica banda de
diaper-rock Bebês de Rosemary
Há algum tempo precisei de um release de Gabriel de Almeida Prado e entrei em contato com ele pra que mo enviasse. Ele, espirituosamente, respondeu-me que não tinha um, porque um amigo que escrevia sobre música num blog (O X do Poema) ainda não tivera a feliz ideia de escrever a seu respeito na "famosa" coluna Ninguém me Conhece, daí que ia ficar me devendo. Achei muito original a forma como ele me cobrou tal texto. Na verdade, Gabriel é um tipo guloso, pois não se contentou com o quanto já escrevi a seu respeito aqui.

Porém, não tenho mais como escapar desse seu "pedido". Como me acostumei a escrever textos "de aniversário", e hoje é o dele, se não lhe der esse presente, posso vir a traumatizá-lo (visto que ele está em fase de crescimento), e não quero mais essa culpa pesando em minhas surradas costas. Antes, contudo, volto a acrescentar que, com raras exceções, costumo escrever sobre artistas que já têm uma obra discográfica. Mas Gabriel também está preenchendo essa lacuna, pois tomou coragem e já está dando os primeiros passos em direção à gravação de seu primeiro CD.

1) No Bolso (Élio Camalle - Gabriel de Almeida Prado)

Isto posto, começo do começo (o primeiro é verbo, o segundo, substantivo). Conheci Gabriel há uns dois anos aproximadamente, em companhia de meu chegado Élio Camalle, que lhe fez a maior propaganda, dizendo-me que eu estava diante de um baita cantor. Vi-o outras vezes, sempre ao lado de Camalle. Dada a estrutura corpórea de cada um, parecia que eu estava diante de uma versão atualizada de Dom Quixote e Sancho Pança. E não é que o rapaz não me desceu? E assim do nada, gratuitamente...

Opa opa opa! Desmascaremos essa hipocrisia! Sendo honesto com minha sinceridade, penetrando lá no íntimo de minha dor de cotovelo, o que aconteceu foi que me peguei como que enciumado por ver um velho amigo e parceiro das antigas deslumbrado com um moleque recém-saído dos cueiros. E meus detratores sabem que tenho certa relutância em aceitar o novo... Mas o fato é que, como era praticamente impossível encontrar Camalle sem que viesse Gabriel a tiracolo, o jeito foi aceitá-lo, como se aceitam as sogras...

Com o passar do tempo, fui entendendo o carinho que Camalle nutria por Gabriel, pois este se mostrava sempre tão carismáticonatural e espontâneo em qualquer ocasião, que era simplesmente impossível lhe querer mal. E ele acabou caindo nas graças de Kana também, o que foi um fator de alta relevância pra que constituíssemos alguma espécie de relação. Foi nesse meio tempo que ele começou a cometer as primeiras composições...

Falando nisso, depois que nos tornamos amigos e parceiros, passei a fazê-lo alvo de chacota justamente pela forma como ele começou a "se graduar" compositor. O fato foi curioso: como soube que Gabriel durante algum tempo recebeu aulas de composição de Kléber Albuquerque, dizia-lhe que me sentia injustiçado por lhe dar de graça o que ele pagara a outro. Ele, entre constrangido e conciliador, revelou-me que na verdade o que ocorrera foi que ele contratara Kléber pra lhe dar aulas de violão, mas, passado algum tempo, como  este lhe confessasse que não podia lhe ensinar muito mais do que ele já sabia, passara a aproveitar as aulas pra compor.


2) Segunda Mão (Gabriel de Almeida Prado - Kléber Albuquerque)

Mas o sucedido não é nem mesmo novidade. Meu querido parceiro e violonista preguiçoso Álvaro Cueva também, a pretexto de receber aulas de violão, aluga o tempo de meu não menos querido Leonardo Costa pra que este lhe arredonde ideias de canções. Mas, voltando a Gabriel (que hoje, além de violão, também faz aula de canto), na pior das hipóteses podemos dizer que ele já começou com o pé direito, pois ser parceiro de Kléber Albuquerque é uma rara honra.

E eis que Élio Camalle fez as malas e se empirulitou rumo a Paris, deixando-me a (implícita) incumbência de amparar o pupilo Gabriel. E foi o que fiz. Já vínhamos nos aproximando, e, com a ausência de Camalle, fui promovido a seu Quixote da vez, embora esteja mais pra Jeca Tatu. Personagens à parte, o fato é que eu e Gabriel, que somos praticamente vizinhos, vendo-nos com frequência chegamos em pouquíssimo tempo a um número considerável de canções em parceria.

E, pra meu espanto, constatei que Gabriel, apesar de seus 22 (agora 23) anos, desenvolve um argumento com a desenvoltura  de uma pessoa muito mais velha. Tanto que por vezes esqueço que estou falando com um cara que tem idade pra ser meu filho. E o espanto é maior quando me lembro do tipo de pessoa que eu era com essa idade. Claro que sua formação foi diferente da minha, ademais, ter um avô poeta e uma mãe engajada profissionalmente com produção poético-musical é um fator de peso, mas não posso tirar os méritos próprios de Gabriel, principalmente por ele ter passado como um relâmpago por aquele período de amadurecimento pelo qual (quase) todo compositor passa. 

Hoje vejo nele um grande cantor e um baita letrista com ideias melódicas bem interessantes. Talvez o que lhe falte ainda seja explorar com mais ousadia as tantas possibilidades rítmicas que o Brasil oferece. Mas, lembremos, estou falando de um cara com 22, digo, 23 anos. No mais, temos em número bastante razoável compositores que mandam bem musicalmente, porém, em se tratando de letristas, esse número cai consideravelmente, e posso afirmar que o surgimento de Gabriel é um alento a todos os fãs saudosistas que gostam de encher a boca pra falar que "no meu tempo é que era bom".

Tá, tá, o texto começou bem-humorado e foi ficando sério... Pra finalizar então voltemos, pois, ao bom humor, que, no mais, condiz melhor com a figura de Gabriel. Preciso espinafrá-lo um pouco, senão vão achar que é texto pago, que nem os que estamos acostumados a ler por aí. Gabriel tem seus podres também e talvez o maior deles seja o de ser viciado confesso em Coca... -Cola! Se um dia a polícia fizer uma vistoria em seu quarto, ele vai se ver em maus lençóis, pois a quantidade do negro líquido que ele esconde embaixo do travesseiro ou dentro do guarda-roupa pode fazê-lo parecer perante a lei menos usuário e mais traficante.

Além disso, vez em quando ele se pega, em gesto teatral, fitando uma garrafa de 2,5 l de Coca em uma das mãos (!) e se dizendo "ser ou não ser, eis a questão". Porque, caros leitores, tal qual a shakespeareana personagem, Gabriel também tem lá suas divagações, suas dúvidas, e, com um pé em Platão e outro em Freud, ele sinceramente não sabe se escolherá ser ao longo dos anos que o esperam um Stan Laurel ou um Oliver Hardy. Isso sem falar que ele vive num fuso horário único (que pertence a outro planeta)...

3) O Fim do Fim do Mundo (Kana - Élio Camalle Gabriel de Almeida Prado - Léo Nogueira)

Mas pra mim pouca diferença faz se ele toma o inominável refrigerante ou um Toddynho, se ele é um campeão de maratona ou um discípulo de Caymmi, se ele é um notívago vampiro ou acorda com as galinhas... Só espero deveras que ele continue tendo o bom gosto de ser meu parceiro e amigo (e não faça como terceiros) mesmo se (ou quando) o sucesso bater em sua porta. Porque, se talento e juventude são neste país sinônimo dessa tão cobiçada palavrinha, ele fatalmente não chegará aos 30 impune. 

Isto é, se a Terra não for pro espaço este ano...

***

Gabriel aportou recentemente no Caiubi.


***

9 comentários:

  1. Oi... qué tal....

    wow... no sabia que tu y Gabriel eran maestro y discípulo, que legal, é toda uma familia musical...

    me gustaron mucho los videos, en especial el del dúo con Kana... , é uma canção tão chic.. hihi

    saludos a todos, a Kana, Gabriel y todos ^_^....

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  2. Ah... no había visto .... es el cumpleaños de Gabriel... felicitaciones Gabriel !!!!!!!!!!!!!!!!!! qué cumplas muchos años más , y tengas muchos éxitos en un carrera musical !!!!!!!!!!!!

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  3. Gabriel de Almeida Prado1 de julho de 2012 às 12:25

    É verdade, Javier. Eu sou o mestre e o Léo é o discípulo. hahaha.

    Abração. Valeeeeeeu.

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  4. Gabriel de Almeida Prado2 de julho de 2012 às 20:42

    Pô Léo, põe essa mão...

    no coração
    na consciência...
    hahahahaha

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  5. Ei Gabriel!! Léo Nogueira tem sido um bom aluno? rs...e a mamãe aqui não conta não? Bem..sou mãe coruja deste menino lindo e talentoso e passei para dizer que Léo tem razão: Gabriel vai nos encantar sempre com sua voz, seu talento e realmente tem parceiros de primeira, tudo isto junto e misturado..rs..só pode resultar em belas canções. Parabéns pelo texto Léo Nogueira, Parabéns pelo talento meu querido filho Gabriel de Almeida Prado, beijo da Mima

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    1. Fernanda, pra elogio de mãe a gente dá um desconto, né? Hahaha!!! Mas o Gabo é um aluno aplicado. Mais umas aulas comigo e ele vai dar o que falar. Hehe!

      Beijos de boas-vindas,
      Léo.

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