sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Entrevistando: 6) José de Abreu (por Alberto Pereira Jr.)

Sou do tempo em que artistas eram de esquerda. Sempre enxerguei a arte como uma ferramenta social capaz de, senão mudar o mundo, ao menos abalar um tiquim suas estruturas. Claro que arte é muito mais que isso, é algo muito complexo, caminha pelos labirintos do subconsciente. Uma arte, pra ser boa, não precisa necessariamente ser engajada. Contudo, quando o artista se posiciona à direita, é sinal de que algo vai mal. Ver, por exemplo, Caetano Veloso, que foi preso e exilado na época da ditadura, declarar voto em ACM Neto em Salvador é algo que frustra quem nele viu algo de revolucionário quatro décadas atrás. Conheço mesmo alguns artistas que se declaram malufistas (afe!)!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ninguém me Conhece: 69) Vamos liberar o pedaço pra Luiz Tatit


São Paulo, apesar de ser a capital financeira do Brasil, sofre de falta de amor-próprio, artisticamente falando. Os artistas daqui têm que sair Brasil afora pedindo perdão por serem paulistanos, afinal, aqui é o túmulo do samba, e Nelson Motta acha que temos... sotaque carregado (sou do Ceará, mas já vivo aqui há tanto tempo, que seria hipocrisia não me considerar paulistano... não o digo com orgulho)! Já falei aqui que, na realidade, quem tem sotaque carregado é estrangeiro falando português, brasileiro tem acento regional que identifica de onde ele é, e só.

sábado, 20 de outubro de 2012

Versão Brasileira: 2) "Libélula" por Kana

No mesmo dia em que acabou a novela Avenida Brasil (19/10) chegou o novo CD da Kana, Em Obras. Achei muito simbólica essa coincidência. Bom sinal. Fiquei duplamente feliz, pois estava um tanto incomodado com esse vício de noveleiro, a hora da novela era praticamente sagrada pra mim. Mas não fui o único, o Brasil inteiro se encantou com a trama, as personagens, os atores... Mas agora é bola pra frente, trabalhar esse CD e fazê-lo rodar o Brasil, se Deus quiser!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Crônicas Desclassificadas: 57) O forte e o fraco


Há algum tempo escrevi um texto chamado João Pereira Coutinho e Eu, que, por sua vez, gerou outro de meu amigo Élio Camalle, O  Centro, escrito quando de sua estada em Paris. Este já de volta a Sampa, encontramo-nos algumas vezes e em mais de uma delas voltamos ao assunto dos textos. E o tema me pareceu tão assustadoramente rico, que me deu vontade de explorá-lo um pouco mais também por aqui. Claro que, a meu modo, não faltarão os exageros apocalípticos, mas é que a coisa me pareceu meio assustadora mesmo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Joaquín Sabina en Portugués: 14) Ito Moreno e a versão de "Calle Melancolía"

Alguns amigos se preocuparam com as tintas carregadas de meus mais recentes textos. Escrevo pra tranquilizá-los. Está tudo bem, ninguém morreu, apenas resto eu cá com minhas contradições. Explico: adoro a liberdade que a solidão me proporciona; em contrapartida, às vezes a mesma liberdade me sufoca, pois tenho certo problema de foco. Quando há uma mulher a meu lado, sinto-me forte, traço metas, quero ir adiante. Já quando estou só, perco-me em fantasias, divagações, chamo a depressão pra dançar, e acabo tendo dificuldades de produzir. Sinto-me meio um peixe que quer viver em terra firme...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Crônicas Desclassificadas: 56) A companhia da depressão

A depressão é muito apegada a mim. Trata-me com zelo, cuidando de que eu não descuide dela, não a esqueça. Contudo, não me sufoca. Deixa-me livre durante dias, que é pra eu sentir sua falta, valorizá-la. E então, quando sabe que eu estou carente dela, aparece, com malas de quem veio pra ficar. E fica e me nina e me põe pra não dormir. Ela me ouve e me entende, possui a delicadeza de não me enxugar as lágrimas. A depressão me dá a maior atenção.

sábado, 6 de outubro de 2012

Crônicas Desclassificadas: 55) O aprendizado da perda

No decorrer da vida, por meio de árduo aprendizado, ficamos craques em perder. Já estreamos perdendo nosso primeiro lar, a barriga da mãe, e logo em seguida o peito dela; perdemos os dentes de leite; perdemos a infância (e, com ela, a pureza); perdemos a virgindade; perdemos aquela(o) garota(a) com quem teríamos dado tudo pra viver uma história de amor; saímos da escola e perdemos praticamente todos os amigos que lá fizemos; perdemos sucessivamente amores, empregos, tempo; perdemos a liberdade quando nos casamos (e tudo no qual investimos quando nos separamos); alguns perdem a fé, outros, a vergonha...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Crônicas Desclassificadas: 54) O olho da rua

Saio às ruas, não sei se à procura de mim ou pra de mim me esconder. O fato é que saio às ruas. Penetro em pulgueiros, bares, drogarias, lupanares, mercados (negros), tomando todo o cuidado pra não penetrar naqueles templos onde todos gritam ao mesmo tempo palavras desencontradas. Quebro à esquerda, depois à direita, passeio pela transversal pisando em versos, com a boca seca e os dentes afiados. As ruas se multiplicam e eu me divido nelas, querendo abarcar todas. As ruas são o lar de meus pés, que, cegos, pisam devagarim, reconhecendo pelo tato, pela planta.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Crônicas Desclassificadas: 53) O jogo da verdade

O garçom trouxe a colher que Leandro pedira, e este, fazendo suspense, respirou fundo e lançou um longo e penetrante olhar inquisidor aos demais membros da mesa. Sueli não se conteve e, arfando, pediu pressa. Leandro aproximou-se mais dela e, como quem vai condenar alguém por bruxaria, de colher em riste se aproximou mais dela e disse "BUM!". A coitada quase desfaleceu. Ele, em seguida, deu uma sonora gargalhada e começou, professoral: