quinta-feira, 21 de maio de 2015

A Palavra É: 5) Fetiche

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Ai, ai, ai! Eu sabia que chegaria o dia em que esta coluna ia virar uma "roubada"! Vinha pedindo a amigos que dissessem a primeira palavra que lhes viesse à cabeça, mas sem lhes dizer o motivo. E não é que meu camarada Carlos D'Orazio tascou, de prima, de bate-pronto, à queima-roupa... fetiche? No que será que ele estaria pensando ao vomitar (mais rápido que uma ejaculação precoce) uma palavra tão... tão... tão... fetichista? Pois bem, vamos por partes. Em primeiro lugar, admito que fui pesquisar a origem da palavra. Já sabia que era francesa, só não sabia que, num surpreendente bate e volta, fetiche, aliás, fétiche, é um empréstimo do português feitiço, cuja origem é o latim facticius (artificial, fictício). Falou ou quer mais?

No Houaiss, aparece como 1) objeto a que se atribui poder sobrenatural ou mágico e se presta culto; e 2) objeto inanimado ou parte do corpo considerada como possuidora de qualidades mágicas ou eróticas. Muito bem, isso está começando a ficar interessante... Então, parafraseando o jargão popular, ixe, ixe, ixe, cada um com seu fetiche. Tenho outro amigo (cujo nome não posso revelar, pra preservar sua re-pé-tação) que tem fetiche por pés. Assim sendo, ele não é daqueles que, ao verem uma gostosona passar, viram o pescoço. Não, senhor, o cara passa o tempo todo olhando pro chão, procurando pés que o possam levar ao paraíso. O problema é que, em tempos de frio, os, digamos, decotes dos pés ficam cada vez menos evidentes. Chamam podólatra a esse tipo de cara. Meninas, cuidado com onde metem os pés... pra não metê-los pelas mãos!

O fetiche não é necessariamente algo que desejemos que aconteça, muitas vezes é apenas uma fantasia com a qual nos contentamos em sonhar, ou, obviamente, fantasiar. Dei uma sapeada por sites e descobri um que tratava dos maiores fetiches femininos. E qual não foi minha surpresa ao saber que o bam-bam-bam, o nº 1 que rola nas cabeças femininas, é o... estupro! Calma, devagar com o (des)andador! Como disse acima, imagino que mulher nenhuma queira ser estuprada (nem homem nenhum), o que rola nessa fantasia é que elas imaginam um cara tipo esses atores boa-pinta, que as pegue de jeito, rasgue suas roupas e as penetre à força – desde que consentidamente, claro. Daí, elas gozam, suspiram, viram pro outro lado, dormem e acordam santas e imaculadas. Ai, mundo, mundo, vasto mundo... cor de rosa!

Só pra constar, outros fetiches femininos são: ser uma stripper, trocar de lugar com o homem, participar de uma suruba, ter um relacionamento homossexual com alguma personalidade famosa linda, exibir-se em local público, fazer-se de submissa etc. etc. É isso mesmo, mulheres? Daí por diante, a umidade vai perdendo a graxa. Já no caso do homem, o fetiche campeão que rola nessas cabecinhas ocas (não só as de cima) é o desejo de estar entre quatro paredes com duas mulheres – e cheio de segundas intenções, pra não dizer terceiras. Mas isso varia de região pra região. No Japão, por exemplo, a homarada gosta mesmo é de uma pedofilia. E a coisa é tão séria, que há mulheres adultas que na hora H se vestem de estudantes (com direito a microssaia e tudo) só pra excitar mais os samuraicos marmanjos.

Mas os fetiches comuns já estão virando coisa do passado. Atualmente, e por falar em Japão (que sempre está alguns passos à frente do resto do mundo em se tratando de tecnologia, inclusive tecnologia fetichista), o berço de Kurosawa foi também precursor na arte de humanizar bonecas com fins sexuais. Como há muitos japoneses endinheirados, mas tímidos, uma saída é o camarada pedir a uma dessas empresas que fabrique uma "mulher" sob medida pra que eles realizem suas fantasias. Os caras podem escolher cor do cabelo, tamanho do busto, expressão facial e tudo o mais. E, como muitos deles não gostam de trocar aquela ideia básica pós-coito, as bonecas vêm ainda com um plus: são mudas!

E não é que falar de fetiche dá pano pra manga? E olhem que fiquei só no sexual (que é o mais interessante), mas há muitos outros sobre os quais nem vou falar, pois estão a um clique do curioso leitor. Contudo, ainda continuando no campo sexual, o grande fetiche masculino está mesmo em se fazer de Casanova pros amigos. Lembrei-me até de uma piada velha, mas que vale pra ilustrar minha afirmação. Na época em que ouvi, a personagem principal era Sharon Stone, mas a variação dos nomes fica ao gosto do freguês. Foi assim: um avião caiu numa ilha deserta e só sobreviveram a Sharon e um cara meio nada a ver. No começo, ela nem deu bola pro fulano, mas, com o passar dos dias, as necessidades falaram mais alto e ela acabou cedendo aos apelos do sr. Fora de Esquadro.

Daí calhou que, durante um tempo razoável, o casal de pombinhos náufragos manteve uma vida sexual razoavelmente satisfatória, só que o fulano foi (com o perdão da palavra) paulatinamente perdendo o tesão pela diva, até que um dia se desinteressou por completo dela. Desesperada, confessou ao príncipe sapo que, se ele a voltasse a possuir, ela seria capaz de fazer qualquer coisa em troca. O cara pensou, pensou, e lhe pediu que se vestisse de homem e caminhasse da outra extremidade da praia em direção a ele. Sharon, apesar de achar o pedido descabido, obedeceu. Abriu uma das malas que se salvaram do acidente, vestiu um paletó que encontrou e pôs-se a caminhar em direção ao amado. Ele, quando a viu, abriu um sorriso, abraçou-a efusivamente e lhe sussurrou ao ouvido: "Cara, sabe quem eu tô comendo? A Sharon Stone!"

É, por isso as más línguas dizem que homem gosta mesmo é de homem. Não à toa, o futebol exerce esse poder de fascínio sobre o sexo masculino. Pode ser visto também como um fetiche aquele bando de cuecas suados pulando e gritando num estádio lotado (de homens praticamente) enquanto 22 tipos saradões se entregam a uma batalha de gladiadores no intuito de ver uma bolinha estufar a rede. Isso tem muito de sexual, não? Mas, além do fetiche, há o azeviche, o beliche, há quem capriche, quem despache, quem se enrabiche, o guaxe, o haxixe, o iídiche, o Josh (lembram dele? Não? Nem eu), quem se lixe, o maxixe, a Natasha (foi mal!), o oxe, o piche, o quiche, o Ritchie, o sanduíche, o trapiche, o Ulixes (ui!), o Xerxes e o Zatoichi. Agora, vocês me deem licença que tá na hora de eu ir brincar de boneca.


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*A justificativa pra eu ter escolhido a foto acima pra ilustrar o texto é que, quando vi Michelle Pfeiffer no cinema interpretando a Mulher-Gato, mais especificamente quando ela proferiu o primeiro "mi-au", foi o único momento em minha vida em que desejei ser o Batman... Quem não tiver mancha em seu passado que atire a primeira batpedra!

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PS: Trilha sonora — Erasmo Carlos e Zeca Pagodinho, Cama e Mesa (Roberto Carlos Erasmo Carlos)


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4 comentários:

  1. Que sem graça, a vida, sem fetiche
    Pode ser cheio de pastiche
    Até exagerar na breguice
    Desde que capriche, tá valendo
    O importante, é estar podendo

    Foi mais forte que eu Léo!
    Me dominou

    KKKKKk

    Beijo e sucesso.

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  2. Cada Fetiche! Me lembrei de uma ocasião, há séculos, numa festinha.... um cara muito mais velho, nem tanto, pois com minha visão de 12 anos, ele pareceria um ancião.. Começou a alisar muito o meu cabelo longuíssimo... e cheirava, alisava, enquanto dançávamos.. Pedi licença pra ir ao banheiro e disse pras amigas: "Vamos cair fora,pois tem um cara querendo roubar o meu cabelo. huahuah :)

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    1. Hahaha! Esse cara "muito mais velho" devia ter a idade que temos hoje, não? rsrs

      Beijão, Anja (tá vendendo seu cabelo ainda? rs),
      L.

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