segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Crônicas Classificadas: 42) Comentários de Roney Giah sobre meu texto "O PT errou"

Minha intenção com este blogue não é "ficar bem na fita" com este ou aquele. Costumo dizer que me orgulho de manter este espaço da maneira mais democrática possível. Pois bem, ora surgiu uma oportunidade pra mostrar que realmente o que digo não é cascata. Há pouco tempo, escrevi um texto que denominei PT errou (clique no link pra lê-lo). Um querido amigo e baita compositor, Roney Giah, após leitura deste, resolveu perder um pouco de seu precioso tempo pra tecer alguns comentários acerca do assunto. Adoro as discussões inteligentes que me levam a pensar a respeito de opiniões daqueles que, em uma ou outra instância, divergem de mim. Assim, embora discorde de muito do que foi escrito por Roney (ou por isso mesmo), resolvi, em vez de lhe dar uma resposta que ficaria perdida ali entre os comentários, trazer a discussão pra uma nova publicação, assim damos mais visibilidade ao assunto e possibilitamos que outras cabeças pensantes se manifestem a respeito dele. Convido-os ao debate, pois:


Comentários de Roney Giah sobre meu texto "O PT errou"
Por Roney Giah (obviamente)

Bacanas as reflexões dos erros petistas. Pessoalmente, acho curioso o argumento de que o PT é ingênuo pois “achava que podia fazer o mesmo que os outros por uma causa justa”. Nessa teoria, em que momento que pegar uns milhões pra conta pessoal é aplicada? Seria um Robin Hood com crise de identidade? Tipo “vamos roubar uns 20 bilhões da Petrobras, mas é pela boa causa do projeto de poder do partido. Mas de repente podemos também pegar alguns milhões pra nossas contas pessoais... que mal teria isso?” Muito curiosa essa linha lógica. 

Ainda nessa mesma linha, e como você mesmo observou, como pode – 13 anos depois – tão pouco ter sido alcançado em educação e saneamento básico? Não é curioso que o montante gasto com o Bolsa Família seja metade do valor investido em Educação e Saúde? Num plano minimamente racional (para quem supostamente alega lutar pelo povo) o Bolsa família não seria um remédio de médio prazo até que essas pessoas conseguissem viver de seus próprios trabalhos (uma vez que estas sejam preparadas e educadas para isso)? A ideia não seria ajudá-las em vez de perpetuamente fazê-las depender de uma esmola? E, caso a ideia seja ajudá-las, por quê que a verba do Bolsa Família continua crescendo ano a ano e as verbas de saúde e educação diminuindo? Seria a tal ingenuidade? Percebe que fica difícil de acreditar nas boas intenções e na tal ingenuidade anunciada? 

Outra coisa que noto em muitas publicações petistas é a tendência de chamar o FHC ou o PSDB de extrema direita. Há muito tempo, quando votávamos em Lula ou Collor, e Marta ou Maluf, essa premissa era de fato factível. Mas hoje em dia creditar a um sociólogo, perseguido pela ditadura e que se exilou no Chile e na França e participou das Diretas Já, esse título é pouco sustentável. Parece-me que, na ausência de um inimigo malévolo, fez-se um inimigo de um ex-aliado para vender para os entusiastas de plantão.

Outro argumento que se usa bastante, e você também aplicou no seu texto, é que a “elite tem nojo de pobre, portanto quer o PT fora do poder”. Ao que me parece, qualquer dono de empresa quer ver seu produto consumido pela maior quantidade de pessoas e classes possíveis. Imagine só o dono da TAM falando “Poutz...vamos tirar a Dilma do poder, pois não aguento mais ficar rico com esses pobres andando de avião”. Soa razoável essa premissa? No Brasil, existem 10.300 multimilionários. Os outros 205 milhões têm que produzir riqueza para viver e, para isso, quanto maior for o público, maior será sua possibilidade de faturamento. Me parece mais provável que essa classe empreendedora note e se incomode mais com o fato de que o dinheiro do imposto produzido por eles não está indo para nenhum lugar que permita o crescimento econômico da população e, sim, desovando num assistencialismo populista e no bolso do partidão e de seus companheiros.

Agora quanto a suas questões contra o capitalismo, não saberia por onde começar. Me pareceria lógico que o “sucesso” e a “abundância” (sim, estou sendo irônico) de países adeptos do socialismo e do comunismo, como Laos, Venezuela, Cuba e Coreia do Norte, seria o suficiente para encerrar a discussão, mas o pessoal que geralmente defende esse sistema costuma dizer (como me parece que você sugeriu) que a Dilma deveria aplicar o socialismo e o comunismo por aqui, mandando embora todas as grandes corporações capitalistas do Brasil, banindo assim o mercado para longe para sermos enfim felizes. Certo... dentro dessa teoria, quem pagaria a conta desse governo maravilhoso comunista? Pois, se você extingue todo o mercado que sustenta o governo por meio de impostos, como essa conta fecha?

Ou você acha que a Dilma deveria, talvez, impor um teto de precificação sobre produtos capitalistas à la Venezuela? Pois na dita Venezuela essa tentativa foi um fracasso daqueles. Impor a uma empresa uma lista de preços fixa (na qual esses preços estão abaixo do custos de produção desse mesmo produto) de fato espanta qualquer empresa de qualquer país. No caso da Venezuela, por exemplo, está mais barato usar uma cédula de bolívar forte como papel higiênico do que comprar papel higiênico, dada a sua escassez oriunda desse sistema maravilhoso. E veja vosmicê que não estou usando metáforas... basta pesquisar por aí.

E aí, pra terminar, você sugere que a solução pra nosso problema seja a volta do Lula daqui a três anos? Jura? Não que tenhamos muitas opções na mesa, mas você realmente acha que o Lula se afastou do poder durante a era Dilma e não tem nada a ver com esse desastre econômico que vivemos e nem com tudo o que mencionei acima? Sei lá querido... essa teoria tá longe de um nexo causal sustentável.

***



4 comentários:

  1. Léo, a questão aqui é quem nunca roubou que atire a primeira pedra. Outra questão, qual é o problema com o assistencialismo aos mais pobres? Não entendo, juro que não entendo.
    Ontem, assistindo ao Fantástico, sobre a ida do Papa a Cuba, uma senhora pergunta ao repórter da Globo: Qual o sentido da vida se não for para ajudar ao próximo?
    Fica aqui minha frustração.

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    1. Ola, Igor. Tudo bem? Quanto tempo!

      Querido, a publicação acima é do Roney, eu apenas cedi o espaço, democraticamente.

      Abração,
      Léo.

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  2. Caro Igor,

    Quanto a sua primeira questão, ela tem que ser reformulada da seguinte maneira:
    - Quem nunca roubou 20 Bilhões e quebrou a Petrobrás e o Brasil antes ? Ao que a resposta será ninguém, exceto o PT.

    - Quanto a sua segunda pergunta de cunho semi-católico a resposta é simples: O bolsa família que começou em 2003 custando 3 bilhões hoje representa 30 bilhões do orçamento da União (dez vezes mais). A Saúde e Educação no mesmo período foram de 30 Bi para 80 Bi (um pouco mais que a metade). Ajudar o próximo significa capacitar o próximo, prepará-lo - com Educação e Saúde - ao invés de dar uma esmola. Dessa forma, estou questionando o aumento anual da esmola Bolsa Família e os cortes de Educação e Saúde.
    Que tal invertemos a escala e aumentarmos a verba da Saúde e Educação pra quiçá nos tirar do penúltimo lugar do ranking Mundial de investimento por aluno?
    Quem sabe se fizermos isso, eu acredite no tal “governo do povo”

    Abraço grande pru cê

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    1. Salve, Roney!

      Querido, após ler seu texto nosso amigo Edu Franco fez uma pequena pesquisa pra rebater seus números e me enviou um texto que pretendo publicar nos próximos dias, da mesma forma que publiquei o seu, democraticamente.

      Abração,
      Léo.

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