segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Esquerda, Volver: 13) O micro e o macro

Recentemente, Kana, minha parceira músico-matrimonial, fez um belíssimo show (sou suspeito, claro) no aconchegante Espaço Parlapatões, bem em frente à paulistana e boêmia Pça. Franklin Roosevelt. Pois bem, a entrada era gratuita, mas a casa permitia que a produção do evento passasse um chapéu pedindo ao público que contribuísse com o que quisesse. Kana levou ao parlapatônico palco oito músicos, sendo quatro saxofonistas, e gastou muito tempo pra fazer os arranjos pra essa banda. Até aí, tudo bem, toda profissão tem seus riscos (e enroscos); o detalhe que gerou este texto foi que bem em frente ao palco havia uma mesa de jovens que bebiam alegremente e, nos intervalos de seu êxtase, assistiam ao show. Já na segunda canção, eu, que estava logo atrás, ouvi de uma garota dessa mesa um "Não tem nenhuma música conhecida!". Duas canções depois, porém, todos eles estavam mexendo seus respectivos esqueletos ao som das tais canções desconhecidas.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A Palavra É: 22) Cultura

Cultura é coisa séria, não é pilhéria nem deve ser vítima de censura. É pra invadir a rua, escapulir da raia, cair na gandaia, cortejar a lua. E a rima continua! Cultura é a dignidade de um povo, o futuro do novo, a memória do velho, o evangelho do ateu. Aí, almofadinha, cala a boca já morreu! A cultura é sua e é minha, não cabe só num ministério, pois transborda os hemisférios, não é pra ficar presa num curral. Sai pra lá com teu Interlagos! Nós queremos Carnaval, sarau, saravá, Saramago, aqui e acolá. E além. E também queremos mais grafite e menos gravata, menos bravata e mais quem grite, que cultura também é grito, é voz, somos todos nós cantando bonito no coro dos seres livres e pensantes, e amanhã mais que antes. Que a vida já anda um bocado difícil e pra segurar esse míssil toda festa é pouca, a burrice é mouca e não protesta. Por mais seresta e menos chefatura.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Ninguém me Conhece: 83) Teju Franco, um guerrilheiro trovador

Por Vanessa Curci
Estava havia anos querendo dedicar ao moço umas linhas por aqui, mas, sagitarianamente teimoso que sou, esperava que ele antes tomasse vergonha na cara e gravasse um CD pra que enfim "merecesse" ser por mim laureado. Contudo, ele, geminianamente teimoso, nem o gravou, e o próprio CD vem paulatinamente perdendo importância como medidor de carreiras. Há até bem pouco tempo, um cantor/compositor tinha como marco zero de sua trajetória o primeiro trabalho gravado; hoje em dia, um disco, aliás, um CD é mero acessório, pouco mais que um luxuoso cartão de visitas que quando muito facilita a marcação de um show em determinado estabelecimento. Perdeu lugar pra bons vídeos no youtube ou ações mais ousadas dentro (e fora) do universo virtual. Assim que, vencido na teimosia, resolvi deixar de esperar por caducos milagres e lhe dar flores em vida.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Eu Não, Vi, Mas Me Contaram...: 7) Rashomon reloaded ou Um conto capilar

Rashomon, hoje considerado um clássico do cinema mundial, é um filme japonês de 1950 escrito e dirigido por Akira Kurosawa que conta a história de um estupro e um assassinato vistos pela ótica de várias testemunhas. Pesquisando a respeito, descobri que existe na psicologia o chamado Efeito Rashomon, nome que é dado a determinada situação de difícil compreensão (ou esclarecimento) por ter conflitantes julgamentos daqueles que a presenciaram. Pois bem, dia desses um amigo escreveu no facebook um fato que ele protagonizou quando de uma visita ao salão de cabeleireiros; achei interessante a história, contada sob sua ótica, e lhe pedi permissão pra transformá-la livremente num conto que ora compartilho com vocês e pro qual me utilizei, meio que enviesadamente, desse tal Efeito Rashomon. Contudo, quero crer que todos me irão compreender. A ele, pois: